quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Salvador Dali

Salvador Dalí (Figueres, 11 de Maio de 1904— Figueres, 23 de Janeiro de 1989) foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho surrealista. O trabalho de Dalí chama a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, como nos sonhos, com excelente qualidade plástica. Dalí foi influenciado pelos Mestres da Renascença, e foi um artista com grande talento e imaginação. Tinha uma reconhecida paixão por atitudes e por fazer coisas extravagantes destinadas a chamar a atenção, o que por vezes aborrecia aqueles que apreciavam a sua arte, ao mesmo tempo que incomodava os seus críticos, uma vez que a sua forma de estar teatral e excêntrica tendia a eclipsar o seu trabalho no que à notoriedade diz respeito.

É através de imagens perturbadoras como esta que Salvador Dalí parte à descoberta das obscuras regiões do subconsciente humano. «Talvez tenha sido com Dalí», escreveu André Breton, «que, pela primeira vez, as janelas do subconsciente foram abertas de par em par.»Pintado em 1936 e pertencente à colecção do Museu de Basileia, «A Besta Cósmica Masculina do Apocalipse», como lhe chamou o autor, desperta de imediato a atenção pelas suas reduzidas dimensões (35 x 27 cm) . Os insectos-picadores humanos de Dalí parecem confinados a um espaço extremamente reduzido. Mas no mundo dos maus sonhos, o espaço torna-se ilusório.Os seres humanos alteram-se, os corpos tornam-se negros e esqueléticos. As mãos tacteiam desesperadamente no espaço como se dedilhassem uma harpa invisível.À semelhança do zoólogo que estuda um espécime doente, o pintor examina minuciosamente cada pormenor do corpo macilento da mulher. O vestido, justo, não encobre nada. O corpo adquire o cinzento mortiço do céu nocturno. E um crepúsculo terrível enche o quadro.A espantosa imaginação do artista evoca um mundo no qual nada faz sentido. As gavetas entreabertas que sobressaem estranhamente do corpo da mulher estão vazias. Terão sido saqueadas? O que teriam contido? As horríveis protuberâncias que se desenvolvem na espinha dorsal da mulher são suportadas por um sistema de muletas. Por trás, uma reprodução de si própria, mais um dos monstros femininos de Dalí, imóvel como uma estátua na planície. Há ramos que despontam na cabeça desta Dafne moderna. Como sempre na arte de Dalí, a civilização parece ter atingido um estádio de ruína e putrefacção.No pulso, algumas peças reluzentes de joalharia exageram mais do que suavizam a miséria. A mão ergue no ar um lenço escarlate, de sangue, qual prémio por uma vitória.Um pouco mais atrás na paisagem, a girafa a arder (do título), temos outro dos curiosos habitantes deste deserto fantasmático. As chamas projectam sombras tremulantes que fazem a já estranha terra parecer ainda mais estranha - e árida. Próximo dela, a pequena figura fantasmagórica não está ali para observar o que se passa à sua volta. Ela olha para fora do quadro, projectando uma longa sombra. Tal como a girafa, que também não parece ter sentido as chamas que a envolvem. Todos suportam a dor em silêncio e com uma espantosa resignação.Em 1937, Dalí evocou as estranhas rochas do cabo Creus e transformou-as numa cabeça gigantesca sustentada por muletas, num quadro chamado «O Sono». Como pintor, Dalí foi um mestre do suspense psicológico. Estudou a história clínica de pacientes mentais e as interpretações dos sonhos de Freud. «Para ser possível dormir», escreveu ele acerca desta obra, «é necessário um sistema de muletas que constitua um equilíbrio psicológico. Se uma só delas falhar, surge imediatamente a insónia.»A muleta reaparece na tela de Basileia desempenhando a sua bem conhecida função. Como uma criança, Dalí tinha fantasias eróticas envolvendo muletas, e estas tornaram-se num dos seus fetiches preferidos, numa obsessão, particularmente nos anos 30, quando estas surgem constantemente sob diversos aspectos. Tal com no quadro de Basileia, isso liga-se amiúde a repugnantes protuberâncias com a forma de pénis, sobressaindo do corpo decadente.Todos os surrealistas queriam penetrar a mente humana. Mas Dalí foi mais longe, a sua pintura parece falar, como diz William Rubin, de estados exagerados de castração, putrefacção, voyeurismo, onanismo, cropofilia e impotência.Ainda que expulso do movimento, Dalí foi um dos seus maiores expoentes, se não o surrealista por excelência.

1 comentários:

Beatriz disse...

Penso que o texto está muito extenso quanto à imagem se fosse possivel podias colocar uma com melhor qualidade.